Tenho pra mim que uma das poucas coisas que superam a criatividade do brasileiro seja a criatividade do brasileiro quando embriagado. E nesse país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza, não há ocasião melhor pra se embriagar do que o Carnaval. É uma mistura maravilhosa que acaba gerando um patrimônio cultural. Não falo das alegorias de escolas de samba ou das letras de marchinhas clássicas, mas sim dos nomes de bloquinhos.
Como sou de São Paulo, confesso ter mais contato com os blocos daqui. Juro que não é um bairrismo prepotente, apenas ignorância. Sendo assim, me apego às folias paulistanas. O nome insuperável continua sendo o do bloco “Arrianu Suassunga”, que espetáculo. Ariano Suassuna, onde estiver, samba de alegria com essa pérola.
É difícil superar, eu sei. Isso não significa que a concorrência esteja muito atrás, o páreo é duro. No quesito trocadilhos com filmes gosto do francês cool versão farra “Amelie Pulando” e do soft porn versão bebedeira “50 tons de pinga”. Trocadilhos, aliás, é o que não faltam em nomes de blocos. É como se todos fossem batizados por um grande tio do pavê carnavalesco.
Acontece com algumas folias que homenageiam artistas, por exemplo. Temos a “Ritaleena”, o “Tô de Bowie”, e o debutante “Samby e Junior”. Gosto especialmente das piadinhas com regiões da cidade, como o bloco “Minhoqueens”, que sai no Minhocão, e o “Mooressaca”, da Mooca. Dessa turma, se destacam blocos que acontecem na Avenida Dr. Chucri Zaindan e na Rua Libero Badaró. São eles os blocos “Chucrute Zaidan” e o ilustre “Libera o Badaró”.
Mas não é só de baixaria que vivemos, a turma dos infantis também merece aplausos. Temos o “Fraldinha Molhada”, o “Berço Elétrico”, o “Mamãe eu Quero”, e o fofíssimo “Ziriguidown”, pra crianças com Síndrome de Down. As melhores características do brasileiro também são agraciadas com o “Me Lembra Que Eu Vou”, o “Marquei de Combinar”, o “Quem Me Viu Mentiu” e o meu favorito dessa galera “É Uma Bosta Mas A Gente Gosta”.
Me agradam também as crias bastardas de outros blocos, como acontece com o “Filhos de Gandhi”, que gerou o “Filhos de Glande” – os caras não perdoam ninguém. O consumo abusivo de álcool, claro, ganha louvores, casos do bloco “Belo Gole”, do “Tomo Junto”, e do “Unidos da Ressaca do Diabo”. Quer mais um trocadilho? Um bloco organizado por judeus em São Paulo se chama “Noiz Quipá”.
Curioso observar, ainda, como a nudez e principalmente a bunda têm local de destaque no batismo dos blocos. O mais conhecido é o “Nu Interessa”, mas também temos o escatológico “Rabusuju” e o sutil “MaiôNuRego”. Gosto de alguns só pela sonoridade. “Cerca Frango”, “João Capota na Alves”, “A Espetacular Charanga do França”. É impressionante a quantidade de nomes fascinantes. Uma pena não entregarem prêmios Nobel pra esse tipo de coisa.